domingo, 26 de junho de 2011

Miniconto - O homem menos estranho


O homem menos estranho


  Pega o primeiro ônibus que para no ponto, o vento corta seus lábios. Há dias não vê a rua, não quer.
  O ônibus está abafado, mas gosta daquele cheiro de gente, tanto tempo não vê gente.Havia lugares vazios nos últimos bancos, escolhe o que tem o homem menos estranho e senta, perna encostada na perna do homem, nem viu a cara, não importa. A perna revestida de seda dá sensação de segunda pele, desliza, sente prazer em roçar disfarçadamente no estranho. Fecha os olhos, inspira o ar misto de cheiros. Final do dia, cada cheiro uma história, de olhos fechados adivinha que o homem ao lado tem mulher e filhos à espera.
  Faz isto sempre, pega um ônibus qualquer, escolhe os dias cinzentos, aqueles que intui não suportará ficar tão só. Estar colada ao homem a esquenta, ele não se afasta, mas pressiona mais a coxa, coxa apertada contra coxa. Finge não sentir a mão que sobe pela sua perna, deixa que o homem a toque, se arrepia, não consegue se mexer, é preciso dizer não, abre os olhos, ele se aproxima e a beija violentamente, morde, machuca, ela não sente prazer, nem medo, apenas vida.


Laura Diz

Ps: Esses dias, estarei postando Minicontos da Laura,que eu simplemente acho Fantasticos. 
+ Minicontos da Laura aqui : http://lauradiz.blogspot.com/

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O sonho de toda palavra é sentir o que tenta explicar.